segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Gata Borralheira


          Era uma vez um homem viúvo que tinha uma filha bonita e boa. Moravam vizinhos a uma viúva, também com uma filha, má e feia. A vizinha vivia agradando a moça vizinha, dando-lhe presentes e fazendo carinhos. A moça ficou muito amiga da viúva e foi pedir ao pai que se casasse com ela, para que todos morassem juntos. O pai tinha negócios que o faziam viajar sempre e não aceitou logo a proposta da filha:
- Minha filha, nós vivemos bem e é melhor ficar como estamos.
A moça, porém, tanto insistiu que o pai propôs casamento à viúva e casou-se. Depois teve a infelicidade de morrer e a moça ficou órfã, entregue à madrasta. Ela maltratava-a por demasia, dando-lhe o serviço pesado da casa, varrer, lavar roupa, pastorear, ir buscar lenha. A outra moça foi deixando de ajudar e a pobre órfã acabou sendo a cozinheira, lavando tudo e servindo como criada. Como passava a maior parte do dia perto do fogão, a madrasta e a filha chamavam-na de Gata Borralheira, dando a entender que ela era preguiçosa e não se apartava do borralho.
Dos bens deixados por seu pai só lhe restava uma vaca, conduzida uma vez por outra ao campo para pastar. A vaca era encantada. Como a moça ficava cada vez mais bonita e a filha da viúva cada vez mais feia, tomou-se a mãe de um grande ódio pela Gata Borralheira, aumentando a tarefa e não lhe dando trégua no trabalho.
Uma vez, para humilhar a Gata Borralheira, a velha lhe entregou uma avantajada porção de linho, dizendo que o trouxesse fiado e limpo, e não lhe deu pão para comer, mandando-a para o campo. A Gata Borralheira, quando chegou com sua vaquinha no campo, começou a chorar e lastimar-se de sua sorte. A vaca, então, falou, dizendo:
- Não te enfades. Põe o linho aqui nos meus cornos.
A moça amarrou o linho nos chifres da vaca e logo ficou tudo fiado, limpo e dobrado. Vindo a fome, a vaca mandou que lhe tirasse um chifre e comesse o que estava lá dentro. Encontrou saborosos petiscos. Voltou para casa e entregou o linho, fiado, limpo, dobrado, e a madrasta admirou-se de vê-la com o semblante risonho, mostrando ter comido e bebido bem.
Na amanhã seguinte, a madrasta lhe deu porção dobrada de linho e nenhum pedaço de pão. Novamente a vaca fiou, dobrou e limpou o linho, dando alimentação boa à pobre Gata Borralheira.
Outra vez a madrasta ficou espantada de ver a tarefa concluir-se daquela forma. Desconfiada de que alguém ajudava a órfã, mandou a filha espionar o que fazia a Gata Borralheira no campo. Foi a moça feia e, escondendo-se pó trás de uma moita, tudo viu e contou à mãe. Esta então resolveu matar a vaquinha, não atendendo ao pranto da Gata Borralheira, que assim perdia sua única amiga.
Foi ao curral despedir-se da vaca e esta disse:
- Não chores, minha filha. Não te preocupes por mim. Pede que te dêem as minhas tripas. Vai lavá-las ao rio e delas sairá uma varinha de condão. Pede o que quiseres à varinha.
A Gata Borralheira pediu que a madrasta lhe desse as tripas da vaca. A velha, de mau-humor, respondeu:
- Pois que fiques com essas porcarias, mas vai lavá-las ao rio, não quero imundícies em casa.
A Gata Borralheira foi lavar as tripas, chorando com saudades da vaquinha. De uma das tripas escapo-se uma varinha de prata caindo no rio, se a moça não segurasse bem depressa. Escondeu-a e voltou para casa mais consolada.
O rei dava, naqueles dias, três noites de festas, para que o príncipe escolhesse esposa. As moças ficaram todas alvoroçadas com a notícia e prepararam os vestidos mais bonitos e ricos. A filha da viúva quase não comia, arranjando roupa e discutindo com a mãe como havia de apresentar-se. A Gata Borralheira, lá perto do fogão, ouvia calada e suspirava com vontade de ir também as festas. Chegou a noite do primeiro baile e a viúva com a filha vestiram-se, ajudadas pela Gata Borralheira, e tomaram uma carruagem, indo para o palácio do rei. Antes de ir-se, disse a filha da viúva:
- Ah! Gata Borralheira, se tivesses um vestido limpo poderias ir para a frente do palácio ver a chegada dos convidados.
- Quem sou eu para ver as festas! – respondeu a moça.
Quando se foram, a Gata Borralheira meteu-se na cozinha, pegou a varinha de condão e disse:
- Minha varinha de condão, pelo poder que Deus te deu, dá-me um vestido da cor da lua, uma carruagem decente, com criados de estribo e cavalos brancos.
Quando acabou de falar, encontrou-se vestida com uma vestimenta de prata, brilhantes como as estrelas. Uma carruagem parou à porta, puxada por duas parelhas de cavalos alvos, e dois criados cobertos de seda, esperando. A Gata Borralheira tomou a carruagem e foi para a festa, linda como os amores.
Quando lá chegou e entrou no salão, toda gente disse que chegara a moça mais bonita e bem vestida da festa. O príncipe foi logo falar com ela e não deixou que outro convidado dançasse com a Gata Borralheira, fora ele mesmo. A moça dançou muito, sendo levada pelo príncipe para refrescar-se, muito olhada pelas senhoras e raparigas da corte. Perto da meia-noite, a Gata Borralheira saiu a capucha, tomou a carruagem e correu para casa. Tirou a roupa, que desapareceu, assim como a carruagem, cavalos e criados. Ficou suja e triste como sempre e foi abrir a porta para a viúva e a filha quando estas voltaram, cansadas e falando da moça bonita que deslumbrara a festa.
- Ah! Gata Borralheira, se estivesses lá para ver a moça bonita e bem vestida! O príncipe ficou apaixonado, só dançava com ela e a procurou por todos os cantos quando ela desapareceu.
Na segunda noite, logo que a viúva e a filha se foram, a Gata Borralheira pediu a varinha de condão um vestido cor do sol, uma carruagem de ouro e cavalos e criados dourados. Tudo apareceu imediatamente e a moça compareceu no baile, ainda mais bonita e admirada que na noite passada. O príncipe não saiu de perto dela, e falava-se que a noiva estava encontrada e que o casamento seria próximo.
Perto da meia-noite, a Gata Borralheira escapou por uma porta e ganhou o pátio, tomando a carruagem. Quando o príncipe trouxe o copo com água que ela pedira, para afasta-lo de perto, não mais a viu e andou como uma alma penada procurando-a por toda a parte, não mais dançando nem fazendo caso das outras moças.
Em casa, a Gata Borralheira ficou sem vestido, carro, cavalos e criados, recebendo as amas, que estavam ainda mais excitadas e falando sobre a moça do vestido cor de ouro.
No terceiro baile, a Gata Borralheira compareceu com um vestido cor das estrelas, indo numa carruagem de vidro, puxadas por cavalos pretos, com criados vestidos de veludo. Foi a maior beleza da festa e só tinham olhos para ela. O príncipe mandou soldados guardarem as portas do palácio para que a moça não desaparecesse como das outras noites.
Ao aproximar-se a meia-noite, a Gata Borralheira passou de sala em sala até que chegou a uma varanda e daí correu para a carruagem. O príncipe que a trazia de olho, correu atrás dela e a moça, tomando o carro na pressa em que ia, perdeu um sapatinho, mas sempre desapareceu.
A velha e a filha só falavam no caso da festa e diziam que o príncipe estava doente de amor, desesperado por não encontrar a moça misteriosa.
Lembrou-se então de um remédio. Mandou um camareiro com o sapatinho perdido por toda cidade, experimentando-o no pé das moças. Aquela que o colocasse bem, nem apertado nem frouxo, casaria com o filho do rei. O camareiro andou pó todas as casas, calçando o sapatinho, mas não encontrou uma só moça que pudesse andar com ele no pé. Por fim, veio ter a casa da viúva. A filha por mais que fizesse, não calçou a sapatinho. O camareiro perguntou se não havia outra moça na casa.
- Há uma criada, a Gata Borralheira, com os pés grandes e sujos.
- Chame a criada, porque todas as moças devem experimentar este sapato.
Chamaram a Gata Borralheira, que veio enrolada em seu avental meio sujo. O camareiro deu-lhe o sapatinho e a moça calçou-o sem a menor dificuldade, andando pela sala. Depois tirou o outro sapato, irmão do que se havia perdido, e calçou-o também, e abrindo o avental, mostrou-se com o vestido cor das estrelas, como estivera no terceiro baile. O camareiro levou-a na carruagem para o palácio, onde o casamento se realizou sem perda de tempo.
A viúva e a filha morreram de raiva.

sábado, 28 de maio de 2011

A Raposa e a Criança

Um Lenhador acordava ás 6 da manhã e trabalhava o dia inteiro cortando lenha, só parando tarde da noite.
Ele tinha um filho lindo de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança. Todos os dias o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do bebê. Ao anoitecer, a raposa ficava feliz com sua chegada.
Os Vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um animal selvagem e, portanto, não era um animal confiável, e quando sentisse fome, comeria a criança.
O lenhador dizia que isso era uma grande bobagem, pois a raposa era sua amiga e jamais faria isso. Os vizinhos insistiam:
- Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho. Quando ela sentir fome vai comer seu filho!
Um dia o lenhador, exausto do trabalho e cansado desses comentários, chegou a casa e viu a raposa sorrindo como sempre, com sua boca totalmente ensangüentada.
O lenhador suou frio e, sem pensar duas vezes, acertou o machado na cabeça da raposa.
Desesperado, entrou correndo no quarto. Encontrou seu filho no berço, dormindo tranquilamente, e ao lado do berço, uma cobra morta.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A História do Lápis!!!

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:
- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim?
A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
- Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.
- Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.
"Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade".
"Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor."
"Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça".
"Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você."
"Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação".

terça-feira, 24 de maio de 2011

Caixinha

Um granjeiro pediu certa vez a um sábio, que o ajudasse a melhorar sua granja, que tinha baixo rendimento. O sábio escreveu algo em um pedaço de papel e colocou em uma caixa, fechou e entregou ao granjeiro, dizendo: "Leva esta caixa por todos os lados de sua granja, três vezes ao dia, durante um ano".
Assim fez o granjeiro. Pela manhã, ao ir ao campo segurando a caixa, encontrou um empregado dormindo, quando deveria estar trabalhando. Acordou-o e chamou sua atenção. Ao meio dia, quando foi ao estábulo, encontrou o gado sujo e os cavalos sem alimentar.
E à noite, indo à cozinha com a caixa, deu-se conta de que o cozinheiro estava desperdiçando os gêneros. A partir daí, todos os dias ao percorrer sua granja, de um lado para outro, com seu amuleto, encontrava coisas que deveriam ser corrigidas.
Ao final do ano, voltou a encontrar o sábio e lhe disse: "Deixa esta caixa comigo por mais um ano; minha granja melhorou o rendimento desde que estou com o amuleto." O sábio riu e, abrindo a caixa, disse:- "Podes ter este amuleto pelo resto da sua vida." No papel havia escrito a seguinte frase: "Se queres que as coisas melhorem, deves acompanhá-las constantemente." 

domingo, 22 de maio de 2011

A Galinha Ruiva

Era uma vez uma galinha ruiva, que morava com seus pintinhos numa fazenda.
Um dia ela percebeu que o milho estava maduro, pronto para ser colhido e virar um bom alimento.
A galinha ruiva teve a idéia de fazer um delicioso bolo de milho. Todos iam gostar!
Era muito trabalho: ela precisava de bastante milho para o bolo. Quem podia ajudar a colher a espiga de milho no pé?
Quem podia ajudar a debulhar todo aquele milho?
Quem podia ajudar a moer o milho para fazer a farinha de milho para o bolo? Foi pensando nisso que a galinha ruiva encontrou seus amigos:
- Quem pode me ajudar a colher o milho para fazer um delicioso bolo?
- Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono.
- Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado.
- Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar.
- Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora.
Todo mundo disse não.
Então, a galinha ruiva foi preparar tudo sozinha: colheu as espigas, debulhou o milho, moeu a farinha, preparou o bolo e colocou no forno.
Sempre perguntando quem ajudaria e sempre tendo as mesmas respostas:
- Eu é que não, disse o gato. Estou com muito sono.
- Eu é que não, disse o cachorro. Estou muito ocupado.
- Eu é que não, disse o porco. Acabei de almoçar.
- Eu é que não, disse a vaca. Está na hora de brincar lá fora.
Quando o bolo ficou pronto... Aquele cheirinho bom de bolo foi fazendo os amigos se chegarem. Todos ficaram com água na boca. Então a galinha ruiva disse:
- Quem foi que me ajudou a colher o milho, preparar o milho, para fazer o bolo?
Todos ficaram bem quietinhos. (Ninguém tinha ajudado)
- Então quem vai comer o delicioso bolo de milho sou eu e meus pintinhos, apenas. Vocês podem continuar a descansar olhando.

E assim foi: a galinha e seus pintinhos aproveitaram a festa, e nenhum dos preguiçosos foi convidado

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amigo...


Amigo é coisa pra se guardar...

Um filho pergunta à mãe:
- Mãe, posso ir ao hospital ver meu amigo? Ele está doente!
- Claro, mas o que ele tem?
O filho, com a cabeça baixa, diz:
- Tumor no cérebro.
A mãe,  furiosa, diz:
- E você  quer ir lá para quê? Vê-lo morrer?
O filho lhe dá as costas e vai...
Horas depois ele volta vermelho de tanto chorar, dizendo:
- Ai mãe, foi tão horrível, ele morreu na minha frente!
A mãe, com raiva:
- E agora?! Tá feliz?! Valeu a pena ter visto aquela cena?!
Uma última lágrima cai de seus olhos e, acompanhado de um sorriso, ele diz:
- Muito, pois cheguei a tempo de vê-lo sorrir e dizer:
- EU TINHA CERTEZA QUE VOCÊ VINHA!'

Moral da história: A amizade não se resume só em horas  boas,alegria e festa. Amigo é para todas as horas, boas ou   ruins, tristes ou alegres.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Agulha Perdida

Uma noite as pessoas viram Rabia procurando algo na rua, em frente de sua cabana. Elas se reuniram - a pobre velha estava buscando algo. Elas perguntaram: "Qual é o problema? O que você está buscando?" E ela disse: "Eu perdi a minha agulha".
Assim, eles também começaram a procurar.
Então alguém perguntou: "Rabia, a rua é grande, a noite está chegando e logo não haverá mais luz; e uma agulha é uma coisa tão pequena - se você não nos contar exatamente onde ela caiu, será difícil encontrá-la".
Rabia disse: "Não pergunte isso. Não levante essa questão de modo algum. Se você quer me ajudar, ajude, caso contrário, não levante essa questão".
Todos eles pararam - todos aqueles que estavam procurando - e disseram: "Qual é o problema? Por que não podemos perguntar isso? Se você não diz onde ela caiu, como nós poderemos ajudar?"
Ela disse: "A agulha caiu dentro da minha casa".
Eles disseram: "Você enlouqueceu? Se a agulha caiu dentro da sua casa, por que você a está procurando aqui?"
E ela disse: "Porque a luz está aqui. Dentro da casa não há luz nenhuma".
Alguém disse: "Mesmo que a luz esteja aqui, como podemos achar a agulha se ela não foi perdida aqui? A atitude correta seria levar a luz para dentro da sua casa, só assim você pode achar a agulha".
E Rabia riu: "Vocês são pessoas tão espertas com pequenas coisas. Quando vão usar suas inteligências para suas vidas interiores? Vi todos vocês buscando do lado de fora e sei perfeitamente bem, sei pela minha própria experiência, que aquilo que estão buscando está perdido dentro. A benção que estão buscando, vocês a perderam dentro - e vocês a estão buscando fora. E a lógica de vocês é essa, porque seus olhos podem ver facilmente o lado de fora, e as suas mãos podem tatear facilmente o lado de fora, porque a luz está fora, vocês estão procurando fora".
"Se vocês são realmente inteligentes", disse Rabia, "então usem a inteligência de vocês. Por que estão buscando a benção no mundo exterior? Vocês a perderam ali?"
Eles ficaram emudecidos e Rabia desapareceu para dentro de sua casa.


Extraído do livro "Sufis - O Povo do Caminho" de Osho

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Casa Da Joaninha!!!


Era uma vez uma joaninha que morava dentro da fechadura quebrada de uma escola.
A tarde quando terminava as aulas, e todos iam embora, a joaninha saia de casa, primeiro ia ao jardim procurar bichinhos para comer, voava de flor em flor, e de barriga cheia começava o passeio, admirando tudo, as vezes encontrava as formigas, que a esta hora já haviam trabalhado muito , assim mesmo dava tempo para saber as novidades. Depois...
Passava pelo pátio, lia os avisos do mural, entrava nas salas apreciava os desenhos pendurados, depois ia para a estante e pegava um livro de historia, fazia uma mágica e o livro ficava bem pequeno e lia cada dia uma historia.
- Ah.! Que vida boa!
Certo dia a escola ficou muito silenciosa, alem do mais, nada de avisos no mural, nem desenhos pendurados nas salas, só silencio.
- Ué disse a joaninha, que silencio vou ver na minha folhinha se é feriado...
-São as férias.
De repente, barulho aqui, barulho ali, joaninha foi até á porta e viu uns homens trabalhando, é que nas férias se faz as reformas da escola.
- Hum, pensou a joaninha logo vão descobrir esta fechadura quebrada, e lá se vai minha casa, tenho que ficar esperta.
De fato, alguns dias depois chegaram na porta dela, e lixa daqui, balança dali, empurra de lá os moveis da joaninha estavam todos revirados, ela resolveu apreciar tudo do alto de outra porta, se tivesse que perder tudo, perderia mas não queria se machucar.
Depois de lixada a porta, chegou a vez da fechadura.
O trabalhador, tirou os parafusos observou bem, virou, mexeu, virou de novo e disse:
- Não tem conserto, melhor trocar por outra.
Ouvindo isso, a joaninha voou para dentro da casa.
Sentiu-se carregada e depois jogada...
Quanto tudo se aquietou ela saiu bem devagarzinho para reconhecer o lugar.
Nossa, a casa dela estava dentro de uma sacola! Junto com outras fechaduras, chaves, um pedaço de grade do portão e outras coisas.
Teve vontade de chorar, depois olhou outras sacolas, umas tinham vidro, outras madeira, outros plásticos, e outros papelões.
- Ah! Já sei é a reciclagem! Exclamou contente.
Outro dia, lendo na sala de aulas como sempre fazia, adormeceu e quando acordou péla manhã a aula já havia começado e a professora falou sobre reciclagem.
Quando temos vidro, ferro papelão, não devemos por no lixo comum, mas separá-lo para reciclagem.
Esse material será aproveitado e a natureza agradece.
Todo papel e papelão reciclado significam menos árvores cortadas e assim vidros, plásticos, tudo pode ser reaproveitado.
Vou pegar minhas coisinhas e procurar uma nova casa.

VIVA A JOANINHA
VIVA A RECICLAGEM.
VIVA........

sábado, 14 de maio de 2011

A Casa Feita De Sonho!!!

Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho e doce como o mel, assim imaginei desde pequeno a minha casa…
Mais tarde, quando me encontrei só no mundo, como não tinha dinheiro, resolvi construí-la com as próprias mãos. Fiz primeiro a minha casa de papel, que é um material barato.
E assim que ficou pronta, vieram todos os ventos da Terra e levaram a minha casa de papel, leve como uma pluma…
Fiquei sem casa, mas não desisti. E fiz a minha casa à beira-mar, com areia da praia, que é um material barato.
Mal estava pronta, vieram todas as marés do mundo e levaram a minha casa de areia, alta como uma torre…
Deu-me vontade de desistir, mas eu precisava de uma casa, e sobretudo não podia abandonar o meu sonho.
E resolvi fazer a minha casa de madeira, que é um material barato. Cortei-a dos bosques, com as próprias mãos!
Ficou linda!… Escondida entre a folhagem…
Mas ainda mal a tinha acabado, vieram todos os fogos do céu e queimaram a minha casa de madeira, quente como um ninho… Chorei sobre as cinzas, como se chora uma pessoa querida que morreu.
Mas, mesmo assim, não desisti. E resolvi fazer a minha casa de açúcar…
Mas o açúcar não é um material barato! Pois não…
Mas eu precisava de uma casa, e sobretudo, não podia abandonar o meu sonho.
Trabalhei, lutei, passei fome, para juntar o açúcar suficiente…
E quando a minha casa estava pronta — eram de açúcar as paredes, o chão, o teto, os móveis, as portas e as janelas — vieram todos os bichos da Terra e devoraram a minha casa de açúcar, doce como o mel…
Fiquei sem casa. E desisti de construí-la com as próprias mãos…
Perguntam-me onde moro… Onde moro eu? Sei lá!… Vou pelo mundo, aqui, além, no bosque, à beira-mar… Perguntam-me se não tenho casa… Tenho, sim! Eu podia lá abandonar o meu sonho!…
Resolvi imaginá-la. Num sítio onde não chega o vento, nem o mar, nem o fogo, nem os bichos da Terra.
Fiz a minha casa com o meu próprio sonho. Ficou linda!
Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho e doce como o mel…

Adaptação De Ricardo Alberty

quinta-feira, 12 de maio de 2011

A Lenda Do Guaraná

Das tribos da Munducurucânia, eram os mais prósperos — os maués. Venciam as guerras, as colheitas eram fartas, as peças abun­dantes e as doenças raras.
Todo esse bem-estar, diziam eles, decorria da presença de um certo curumim (menino) que há alguns anos nascera na tribo, e, por isso, a atenção e cuidados que lhe dispensavam eram enormes; se ia à pesca, sua igarité era acompanhada de outras, com hábeis pescadores, que o desviavam das águas infestadas de piranhas, jacarés ou puraquês; se entrava na mata, mateiros experimentados o afas­tavam das castanheiras em safra ou dos ninhos de tocandiras assa­nhadas.
Mas, um dia, a vigilância foi burlada... Jurupaí, o gênio do mal, disfarçado em cascavel, feriu o curumim, num bote certeiro.
A tribo entrou em grandes lamentações e durante horas seguidas as preces e os gritos de desespero se espalharam pelas florestas e águas negras do Maué-açu.
Tupã atendeu as lamentações e uma voz, que não se sabe de onde veio, determinou:
- Tirem os olhos da criança, plantem na "terra firme", reguem com lágrimas e deles nascerá a "planta da vida", aquela que fortale­cerá os jovens e revigorará os velhos...
Os pajés arrancaram e plantaram os olhos do curumim morto. Durante quatro luas, os guardas da preciosa sementeira velaram e re­garam a terra com lágrimas.
Uma nova planta surgiu, travessa como os curumins, procuran­do subir às árvores próximas, de hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros. E quando frutificou, seus frutos de negro azeviche, envoltos no arilo branco e embutido em duas cápsulas vermelho-vivas, eram sem dúvida a multiplicação milagrosa dos olhos do príncipe maué.
E ela realmente trouxe o progresso da tribo, pelo abundante comércio de seus grãos, e os sábios confirmaram a lenda — fortalece, os fracos, conserva os jovens, rejuvenesce os velhos.

Do livro Estarias e lendas da Amazônia

terça-feira, 10 de maio de 2011

O Lixo


Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivínhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-Ia. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode ...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
- No seu lixo ou no meu?

Luís Fernando Veríssimo