sábado, 30 de abril de 2011

Margarida Friorenta

7257margarida

Era uma vez uma Margarida num jardim.
Quando ficou de noite, a Margarida começou a tremer.
Aí, passou a Borboleta Azul.
A Borboleta parou de voar.
         - Por que você está tremendo?
         - Frio!
- Oh! É horrível ficar com frio! E logo numa noite tão escura!
A Margarida deu uma espiada na noite.
E se encolheu nas suas folhas.
A Borboleta teve uma idéia:
- Espere um pouco!
E voou para o quarto da Ana Maria.
- Psiu! Acorde!
- An! É você, Borboleta? Como vai?
- Eu vou bem. Mas a Margarida vai mal.
- O que é que ela tem?
- Frio, coitada!
- Então já sei o remédio. É trazer a Margarida pro meu quarto!
- Vou trazer já!
A Borboleta pediu ao cachorro Moleque:
         - Você leva esse vaso pro quarto da Ana Maria?
Moleque era muito inteligente.
E levou o vaso muito bem.
Ana Maria abriu a porta para eles.
E deu um biscoito ao moleque.
A Margarida ficou na mesa de cabeceira.
Ana Maria se deitou.
Mas ouviu um barulhinho.
Era o vaso balançando.
A Margarida estava tremendo.
- Que é isso?
- Frio!
-Ainda? Então já sei! Vou arranjar um casaquinho pra você.
Ana Maria tirou o casaquinho da boneca.
Porque a boneca não estava com frio nenhum.
E vestiu o casaquinho na Margarida.
- Agora você está bem. Durma e sonhe com os anjos.
Mas quem sonhou com os anjos foi Ana Maria.
A Margarida continuou a tremer.
Ana Maria acordou com o barulhinho.
- Outra vez? Então já sei. Vou arranjar uma casa pra você!
E Ana Maria arranjou uma casa para a Margarida.
Mas quando ia adormecendo ouviu outro barulhinho.
Era a Margarida tremendo.
Então Ana Maria descobriu tudo.
Foi lá e deu um beijo na Margarida.
A Margarida parou de tremer.
E dormiram muito bem a noite toda.
No dia seguinte Ana Maria disse para a Borboleta Azul:
- Sabe, Borboleta? O frio da Margarida não era frio de casaco não!
E a Borboleta respondeu:
- Ah! Entendi!

Fernanda Lopes de Almeida

** Post Dedicado a Contadora de Histórias Rosi Tuleski, que indicou a história!

Livro Do Dia - Grandes Aventuras

Grandes Aventuras - 30 Histórias Reais de Coragem e Ousadia

Grandes aventuras apresenta a história de trinta pessoas que se recusaram a incluir a palavra impossível em seu vocabulário - entre eles, o viking Leif Eriksson (que no ano mil navegou da Groenlândia ao Canadá), os descobridores Cristóvão Colombo e James Cook, o proscrito Alexander Selkirk e a ladra Moll Frith (que inspiraram, respectivamente, os romances Robinson Crusoé e Moll Flanders, de Daniel Defoe), o temível pirata Barba-Negra, o naturalista alemão Alexander von Humboldt, os aviadores Charles Lindbergh e Amelia Earhart e o astronauta Yuri Gagarin. Desenhos, fotos, mapas e quadros com informações de apoio completam a edição.

Editora: Companhia das Letrinhas
Autor: RICHARD PLATT

quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Sogra Desconfiada

A Mulher do João foi trabalhar e fazer um curso de 6 meses nos Estados Unidos.
O João, é claro, contratou uma bela empregada para os afazeres domésticos...
Uma dia, sua sogra liga e avisa que vai até lá para jantar.
Durante a refeição, a velha não pôde deixar de notar o quanto a empregada era atraente e sensual.
Após o jantar, ela começa a imaginar se havia "mais alguma coisa" entre seu genro e a empregada, e fica dando umas indiretas.
Fica falando da labuta da filha numa terra estranha para juntar dinheiro para a família, essas coisas...
Lendo os pensamentos da sogra, João diz:
- Eu sei o que a senhora deve estar pensando, mas posso assegurar que meu relacionamento  com a empregada é puramente profissional!
Os dois deram a conversa por encerrada e, terminando o jantar, a sogra foi embora.
Uma semana depois, a empregada vira para o João:
- Desde que sua sogra veio para jantar, a concha de sopa de prata sumiu. Você não acha que ela levou, acha?
João responde:
- Bem, eu achava que aquela jararaca podia ser tudo, menos ladra. Mas, mesmo assim vou escrever um e-mail para ela, só para ter certeza...
Então ele escreve - com cópia para a esposa nos EUA - só de sacanagem:

"Querida sogrinha, não estou querendo dizer que a senhora "pegou" a concha de sopa da minha casa, e não estou querendo dizer que a senhora "não pegou" a concha de sopa, mas o fato é que ela sumiu desde o dia em que a senhora esteve aqui para o jantar".

No dia seguinte, João recebe um e-mail de sua sogra - também com cópia para sua esposa - dizendo:

"Querido genro, eu não estou querendo dizer que você "dorme" com a empregada, e não estou querendo dizer que você "não dorme" com a empregada, mas o fato é que, se ela estivesse dormindo na própria cama, já teria achado a concha de sopa que eu coloquei lá, bem debaixo do travesseiro!"


Post dedicado a todas as Sogras!!!
Feliz Dia Da Sogra!

terça-feira, 26 de abril de 2011

A Raposa E O Urso

O grande urso gabava-se de ser muito esperto. Ele convenceu todos os animais da floresta que, só ele e mais ninguém, tinha o direito de ter o título de animal mais esperto do mundo. A raposa, que sempre teve essa fama, quis acabar com essa história do urso. Muita matreira ela convenceu o grandalhão a comprarem juntos um pote de manteiga. De posse da iguaria, resolveram guardá-la no oco de uma grande árvore. E a raposa falou:
- Bom, amigo urso, vamos descansar e depois poderemos saborear essa delícia!
O urso concordou e os dois foram se deitar. Quando o urso já dormia a sono solto, a raposa se levantou, sacudiu-se e correu ao oco da árvore. Comeu toda a sua parte da manteiga e voltou para se deitar. Mas quando ela chegou, o urso abriu os olhos e perguntou:
- Onde você foi?
E a espertalhona respondeu:
- Amigo, você não imagina o sonho que eu tive: sonhei que fui convidada para ir a uma grande festa de batizado! E o sonho era tão real que eu levantei e foi correndo para a festa!
- E você encontrou a festa? - quis saber o urso.
- Que nada! Mas eu sei o nome da criança!
- E qual é?
- O menino chama: “Comi-a-minha-parte”! Não é estranho?
- Muito!
- Mas é coisa de sonho! Vamos dormir que é melhor!
Então eles se deitaram e voltaram a dormir. Em pouco tempo a raposa se levantou, sacudiu-se de novo e correu ao oco da árvore. Comeu um pedaço da parte do dorminhoco e voltou para se deitar. Mas quando ela chegou, o urso abriu os olhos novamente e perguntou:
- Você saiu de novo? Pra onde você foi?
E a matreira respondeu:
- Amigo, tive o sonho de novo! Fui convidada para ir a outra uma festa de batizado!
E o sonho, igual ao outro, era tão real que eu levantei e foi correndo para a festa!
- E dessa vez você encontrou a festa? - quis saber o urso.
- Que nada! Mas, como da outra vez, eu também descobri o nome da criança!
- E qual é?
- O menino chama: “Comi-um-pedaço”! Não é estranho?
- Muito!
- Mas é coisa de sonho! Vamos dormir que é melhor!
Então eles se deitaram e voltaram a dormir. O urso demorou para dormir. Pensava nos estranhos nomes das crianças dos sonhos da raposa. Mas, embalado por esses pensamentos, logo caiu num sono profundo. Em pouco tempo a raposa se levantou, sacudiu-se mais uma vez e correu ao oco da árvore. Comeu quase toda a manteiga do pote deixando só um pouquinho. Tirou esse pequeno pedaço, guardou em outro lugar e deixou o pote limpo. A esperta voltou correndo para se deitar. Mas quando ela chegou, o urso abriu mais uma vez os olhos e perguntou:
- Você não tem sossego, amiga? Saiu de novo? Pra onde você foi dessa vez?
E a danada respondeu:
- Amigo, não aguento mais esses sonhos que me atormentam!
E o urso quis saber:
- Você sonhou de novo? Foi com uma festa?
E a esperta raposa respondeu fingindo desespero:
- Sonhei, amigo! Sonhei de novo que fui novamente convidada para ir a uma outra festa de batizado! E o sonho, igual aos outros, era tão real que eu levantei e foi correndo para a festa!
- Mas dessa vez você encontrou a festa, né?
- Que nada! Mas, como das outras vezes, eu também descobri o nome da criança!
- E qual é?
- É o nome mais estranho todos! O menino chama: “Guardei- um-restinho”! Não é esquisito?
- Muito!
- Mas só pode ser coisa de sonho! Vamos dormir que é melhor!
Então eles se deitaram e voltaram a dormir. Dessa vez os dois dormiram a sono solto. Quando acordaram a raposa propôs:
- Amigo urso, vamos comer nossa manteiga?
         O urso lambeu os beiços:
         - Vamos!
Os dois foram até ao oco da árvore e quando lá chegaram encontraram o pote vazio. Limpo como se tivesse sido lavado. Sem um pedacinho de manteiga. O urso ficou espantado:
         - O que aconteceu com a nossa manteiga, amiga?
         A raposa, fingindo indignação, começou a acusar o urso:
- Será mesmo que o amigo não sabe? Enquanto eu estava sonhando com as festas de batizado, será que o amigo não veio aqui e comeu toda a manteiga?
- Eu, amiga?
- O senhor, sim!
- Mas eu estava dormindo!
- É! Mas toda às vezes que eu voltei do meu desespero... da minha procura pelas festas que apareciam nos meus sonhos... o amigo estava com os olhos bem abertos! E olho aberto não é olho de quem está dormindo!
O urso tentava se explicar:
- Mas não fui eu, amiga!!
         E a raposa foi definitiva:
- Eu quero acreditar no senhor, mas só tem um jeito da gente descobrir a verdade!
- Qual é?
- O senhor vai se deitar no sol quente por duas horas!
- Mas como isso vai provar que eu não comi a manteiga?
- Ah... o sol é um grande juiz! Ele vai esquentar a sua pança e se a manteiga estiver lá dentro vai sair! Se no final dessas duas horas a sua boca e seus bigodes estiverem sujos de manteiga foi o senhor o ladrão! Se estiver tudo limpo não foi o senhor e teremos que procurar o bandido! O amigo aceita?
O urso, que tinha a certeza que não tinha comido a manteiga, aceitou imediatamente. Os dois foram para um descampado. O sol estava a pino, o grandalhão se deitou e a raposa disse:
         - Amigo, vamos esperar as duas horas pra gente ter a certeza que não foi você! E pra não termos nenhuma dúvida eu também vou deitar!
- Pra quê, amiga?
- Para o senhor não ter dúvida que não fui eu que roubei!
A raposa deitou. O sol estava muito gostoso. Com aquele calorzinho que dava uma moleza! A raposa sabia que logo o urso iria dormir. E não demorou muito para o grandalhão cair num sono profundo. Com muito cuidado, a danada foi até o lugar onde tinha guardado o restinho de manteiga. Voltou e lambuzou os bigodes e a boca do urso. Depois deitou e ficou esperando.
Passaram as duas horas e quando o urso abriu os olhos viu a raposa com uma cara zangada.
         - Então, senhor urso, não foi o senhor que comeu toda a manteiga?
         O grandalhão lambeu os beiços e sentiu o gosto da manteiga que lambuzava todo o seu focinho. E a raposa continuou fingindo estar indignada:
- O senhor não tem vergonha? Como pode fazer isso com uma amiga? E agora fiquei sem a minha manteiga! Isso é um absurdo!
O urso, sem entender nada, ficou muito envergonhado. Comprou um novo pote de manteiga e deu para a “amiga”. E a raposa mostrou quem realmente merecia a fama de esperta.

Conto popular recontado por Augusto Pessôa 

domingo, 24 de abril de 2011

Dúvidas Pascais


- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é ...... bem ...... é uma festa religiosa! 
- Igual Natal?                                                
- É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.   
- Ressurreição?               
- É, ressurreição. Marta, vem cá!                            
- Sim?                                                
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.              
- Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos ....... . Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma Educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Ave Maria! 
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?                
- É filho, Jesus e Deus são a mesma pessoa. Você vai estudar isso no catecismo. Chama-se a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.        
- O Espírito Santo também é Deus? É sim.        
- E Minas Gerais?                                                
- Sacrilégio!!!                                       
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?                 
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas quando você for no
catecismo  a professora explica tudinho!       
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.      
- Coelho bota ovo?                 
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era, era melhor, ou então urubu.                             
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia que ele morreu?                    
- Isso eu sei: na sexta-feira santa.      
- Que dia e que mês?                        
- ??????? Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na sexta-feira santa e ressuscitou três dias depois, no sábado de aleluia.      
- Um dia depois.                                              
- Não, três dias. 
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na sexta-feira santa ....... ou terá sido na quarta-feira de cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!                  
- Como?                                              
- Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?                 
- É que hoje é sábado de aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.        
- O Judas traiu Jesus no sábado?             
- Claro que não! Se ele morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- É, boa pergunta. Filho, atende o telefone pro papai. Se for um tal de Rogério diz que eu saí.                                          
- Alô, quem fala?                                                  
- Rogério Coelho Pascoal. Seu pai está?         
- Não, foi comprar ovo de Páscoa. Ligue mais tarde, tchau.
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.        
- Só?               
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?                      
- Coitada!                       
- Coitada de quem?      
- Da sua professora de catecismo!!

Luis Fernando Veríssimo

Livro do Dia - A Viagem ao Brasil em 52 Histórias

Este livro reúne lendas e contos populares tradicionais de nosso país. Antropólogos, etnógrafos, pesquisadores e folcloristas - como Herbert Baldus, Egon Schaden, Cláudio e Orlando Villas-Boas, Darci Ribeiro, João Ribeiro, Basílio de Magalhães, Afonso Arinos, Artur Ramos, Sílvio Romero e Mário de Andrade - serviram de inspiração para essas histórias que recobrem as cinco regiões do Brasil, montando um painel de nossa cultura popular. Cada narrativa é permeada de quadros explicativos ilustrados com fotos e desenhos que, na lateral das páginas, informam sobre a geografia, a botânica, a zoologia, a história, a economia e a cultura do país. O número 52 foi escolhido para que o leitor tenha uma história nova para ler a cada semana, durante um ano inteiro, viajando do Amapá ao Rio Grande do Sul, percorrendo vilarejos e metrópoles, interior e capitais, praias, mata e sertão.

Editora: Companhia da Letrinhas
Autor: SILVANA SALERNO

sábado, 23 de abril de 2011

Livro Do Dia – A Volta Ao Mundo em 52 Histórias


Com 52 narrativas de 33 países dos cinco continentes, essa coletânea inclui clássicos como "Chapeuzinho Vermelho" e histórias cuja difusão se restringiu a determinadas culturas, como "Soliday e o Corvo", da Jamaica. Alguns contos pouco conhecidos no Brasil, como o tcheco "A raposa manca", assemelham-se a narrativas famosas, como "O Gato de Botas". Todas as histórias são complementadas por informações paralelas sobre sua origem, seu tema e seus símbolos, sobre locais e personagens relacionados com os protagonistas, sobre o país e a época em que teriam se desenrolado, etc. Desenhos, quadros famosos e fotografias compõem o material iconográfico e ajudam a dar a esse livro o caráter de uma "história das histórias". A pesquisa e a organização do volume são do inglês Neil Philip, especialista em mito e folclore na literatura infantil.

Editora: Companhia das Letrinhas;
Autor: NEIL PHILIP
Origem: Nacional
Ano: 1998
Edição: 1
Número de páginas: 160

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Centopéia que Sonhava

Lá ia a centopéia pensando com seus botões.
“Mas que vontade de voar”, pensou, ao ver a andorinha lá no alto.
“Mas que vontade de nadar”, pensou ela, quando viu o peixinho vermelho fazer maravilhas dentro da água. “E cantar como o curió, que dobra suas notas que é uma beleza!”
“É, mas centopéia não voa, não nada e nem canta”, concluiu com tristeza. “Tenho que me conformar e ficar andando com minhas cem perninhas e ainda achar bom”.
Aí ouviu uma vozinha que chegava do alto de uma árvore. Era a andorinha que lhe disse:
– Dona Centopéia, estou vendo que a senhora tem vontade de voar.
– É verdade — respondeu –, mas não posso, não tenho asas, só tenho perninhas, que servem para andar mas não para voar.
– Mas a senhora pode voar comigo, nas minhas costas!
– Será mesmo que posso realizar esse sonho, ir lá em cima, nas nuvens, ver tudo do alto?
– É claro que pode, venha!
Mais que depressa a centopéia subiu nas costas da andorinha, que saiu voando. Em poucos instantes já estava lá no alto. Era uma maravilha ver tudo ficar pequeno ali embaixo. Como o mundo era grande lá de cima, e bonito, azul, e que ventinho gostoso ela sentia. Nem teve medo, de tão animada que estava com a experiência.
“Devo ser a primeira centopéia do mundo a voar”, pensou ela com suas perninhas.
– Vamos descer, dona Andorinha, é emoção demais. E desceram.
– Quando quiser voar de novo é só falar — disse a andorinha, e sumiu no céu como um raio.
“Voar foi possível”, pensou a centopéia. “Mas nadar não tem jeito, aí só sendo peixe mesmo.” Ela, então, ouviu outra vozinha que vinha da água.
– Ei, dona Centopéia, a senhora tem vontade de nadar? Ir lá no fundo e descobrir um outro mundo colorido?
– Mas como, seu Peixinho? Será possível? Não vou morrer afogada?
– Não — disse o peixinho –, a senhora sobe nas minhas costas, se agarra direitinho e prende a respiração por uns minutos. Boca fechada e olhos bem abertos. Vai dar certo. — E deu mesmo.
A centopéia subiu nas costas do peixinho, prendeu a respiração e… foi outra maravilha! Como era bonita a água azul, limpa, cheia de outros peixinhos coloridos.
A centopéia levou um susto enorme quando apareceu um peixão.
“E se ele pensar que sou uma minhoca?” Mas não pensou. Nadar era uma maravilha. A vida debaixo da água é outra coisa. Mas só para quem consegue prender a respiração por bastante tempo, e ela já estava aflita para subir. E subiram.
– Obrigada, seu Peixinho, foi uma beleza!
– Obrigada, seu Peixinho, foi uma beleza!
– Quando quiser nadar de novo é só falar — disse o peixinho. – Mas tenho outra surpresa para a senhora.
O peixinho pegou uma conchinha, amarrou num barbante fino e disse:
– Suba, dona Centopéia, vamos correr por cima da água! — E saiu nadando, puxando a centopéia a uma velocidade incrível. Foi o máximo!
É, a coisa estava ficando boa. Ela, uma simples centopéia, já havia voado e nadado, e não tinha asas nem era peixe!
Mas cantar como o curió, isso sim que não podia nem deveria haver jeito. Não tinha voz, não sabia produzir uma melodia. Mas de novo a centopéia ouviu uma voz, que desta vez vinha lá do alto de uma laranjeira. Era o curió, que dizia:
– Olha, dona Centopéia, cantar a gente aprende. Tem gente que sabe educar a voz e canta que é uma beleza. Mas eu tenho uma coisa melhor que cantar: é tocar uma flautinha.
– Como pode ser isso, seu Curió?
– Eu faço uma flauta de bambu bem feitinha, ensino as notas para a senhora e aí podemos tocar e cantar juntos.
– Essa eu nem acredito.
– Mas vai acreditar.
E o curió fez uma flautinha com um som muito doce e bonito. A centopéia ficou tão entusiasmada com as aulas que aprendeu logo. Ela tocava bonito, e todos os bichos da floresta iam ouvir a centopéia flautista.
A centopéia agora tinha um último desejo: pular de galho em galho lá no alto das árvores da floresta. Mas como, se não conseguia nem dar uns saltinhos aqui na terra? Foi quando chegou o macaco, com um riso bem esperto nos lábios.
– Se a senhora quiser saltar, é só subir aqui nas minhas costas e se segurar bem.
– Claro que quero! Vai ser muito divertido ir saltando por aí de galho em galho!
E foi uma algazarra. O macaco pulando, gritando e rindo, com a centopéia agarradinha nas suas costas. Parecia um circo, o macaco era mestre no salto.
A noite foi chegando e a centopéia estava muito feliz com todas as aventuras daquele dia. De repente se deu conta do que havia acontecido: ela não sabia que tinha tantos amigos na floresta e que tudo o que ela não conseguia fazer sozinha ela podia fazer com a ajuda dos outros bichos. Podia voar sem ser pássaro, nadar sem ser peixe, cantar sem ter voz e pular sem ter pernas e braços de macaco.
– Quem tem esses amigos pode tudo — concluiu ela. — Juntos vamos
muito longe!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Ratoeira


Um rato, olhando pelo buraco na parede,  vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote.
Pensou logo no tipo de comida que poderia haver ali.
Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.
Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa !!!
A galinha, disse: - Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.
O rato foi até o porco e lhe disse: - Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira !!!
– Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar.
Fique tranqüilo que o senhor será lembrado nas minhas preces.
O rato dirigiu-se então à vaca.
Ela lhe disse: - O que Sr. Rato? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo?
Acho que não! Então o rato voltou para a casa, cabisbaixo e abatido, para encarar a ratoeira do fazendeiro.
Naquela noite ouviu-se um barulho, como o de uma ratoeira pegando sua vítima.
A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.
No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa.
E a cobra picou a mulher... O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital.
Ela voltou com febre.
Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha.
O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.
Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.
Para alimentá-los o fazendeiro matou o porco.
A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral.
O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.

"Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que, quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos".